sexta-feira, 4 de junho de 2010


A razão desse artigo deve-se fato de observarmos, com frequência, uma série de erros cometidos no manejo de volumosos visando a nutrição de eqüinos. Sem maiores pretensões, objetivamos alertar os técnicos e demais pessoas envolvidas no ramo para as consequências desagradáveis de um mau manejo do complexo solo-planta-animal.

Comecemos pela escolha da forrageira. A eleição da(s) forragem(ns) deve obedecer critérios técnicos de zoneamento edafoclimático, onde o solo pode ter suas características químicas modificadas pela ação do homem (calagem, adubação, etc), mas o clima é de controle inviável. Por essa razão o zoneamento climático é fundamental, bem como o conhecimento dos hábitos de crescimento e características agronômicas da planta.

Normalmente, espécies forrageiras de elevada exigência em fertilidade do solo são de alto valor nutritivo para o cavalo. Deve-se atentar para a clássica pergunta: qual é o melhor capim para o cavalo? A resposta correta é: “Praticamente todos apresentam aspectos positivos e negativos, cabendo ao técnico a responsabilidade de saber utilizar adequadamente as características de cada um”.

Deve-se evitar “modismos”desnecessários como o mau exemplo da erradicação do quicuio (Pennisetum clandestinum) nativo da região limítrofe de Curitiba (PR) em favor do coast-cross e transvala.

Calagem e adubação

Observa-se que o processo de calagem executado na maioria dos haras é feito de forma empírica, onde o “chutômetro” acusa quase sempre a cifra de 5t/alqueire (2t/ha). Na maioria dos casos o calcário é depositado sobre o solo intocado e incorporado via aração profunda. Como resultado do tombamento da leiva, o calcário vai se localizar após os 25 cm de profundidade não trazendo benefício na superfície.

Outras ocasiões, a forrageira é implantada sem prévia correção do solo e, o calcário, então, é distribuído em cobertura à área plantada. Essa prática é altamente condenável, pois o efeito da calagem em cobertura é infinitamente menor que o calcário incorporado!

Outro erro grosseiro é o uso de adubos fosfatados solúveis incorporados em solos ácidos, ou ainda o uso de adubos pouco solúveis em solos com pH acima de 6,0.

O velho ditado “A pressa é inimiga da perfeição” aplica-se magistralmente nesse caso. Observa-se em grande frequência uma pressa prejudicial no uso da pastagem implantada, e essa utilização precoce leva à deterioração da massa vegetal em pouco tempo.

O ideal seria uma ceifa da forrageira e não a utilização como pastejo, por ocasião do primeiro corte. Caso não seja possível, deve-se protelar ainda mais a entrada de animais no pasto.

Dimensão, ração e adubação

Quase sempre os piquetes são muito grandes e o número de animais em pastejo, dentro do piquete, é muito pequeno. Como resultado dessa combinação, temos áreas subpastejadas (crescimento elevado da forragem e perda do valor nutritivo) ao lado de locais superpastejados, onde a emissão da brota do capim é imediatamente acompanhada de corte pela boca do animal. Visualmente, o piquete apresenta massa forrageira, mas na prática não há consumo do excedente e ocorre degradação das áreas hiperconsumidas.

Como o rodízio dos piquetes demora muito para ser efetuado essa situação de desequilíbrio entre o crescimento da forragem e o consumo da mesma, perdura por um longo tempo.

Quando o haras não tem um programa nutricional racional, o desbalanço entre os nutrientes provoca um comportamento típico dos equinos no pasto: eles se acumulam no canto do piquete, e permanecem parados com temperamento linfático (“ar de boi sonso”) durante horas.

Esse comportamento agrava o quadro de degradação da pastagem descrito no ítem anterior e indica que a nutrição no haras está errada!

Infelizmente devemos ressaltar que “o pasto serve para o cavalo se alimentar e não para deleite visual do proprietário”. Observa-se com bastante frequência uma utilização inadequada de adubo nitrogenado em cobertura, visando basicamente alterar a coloração da forrageira. Essa prática resulta no aumento de compostos nitrogenados não proteicos na planta (aminas, amidas, nitrosaminas, nitritos e nitratos) com prejuízo a médio e longo prazo da saúde animal.

Um haras bem manejado nas suas pastagens apresenta um constante consumo da forragem, estado nutricional dos animais perfeito e mudanças na coloração da forrageira de acordo com o uso e a época do ano. Deve-se desconfiar do verde-azulado constante que exibem alguns haras ao longo do ano, pois isso evidencia uso abusivo de adubo nitrogenado e/ou adubação fora de época. O uso de irrigação para forrageiras tropicais durante o “inverno”, potencializa os efeitos deletérios da adubação (válido para as condições de SP, PR, SC, Sul de MG e MS).

Erros na fenação de gramíneas

Infelizmente a esmagadora maioria dos haras que apresenta estrutura de fenação não consegue produzir feno, somente palha (cama). O verdadeiro feno de gramínea deve apresentar coloração esverdeada, consistência macia, odor característico e ausência de substâncias estranhas. Os maiores erros observados no processo de fenação serão relatados a seguir.

O processo de fenação nunca acrescenta nada ao material original. Assim sendo se o capim a ser ceifado for passado, descolorido, praguejado e fibroso, seu feno correspondente apresentará obrigatoriamente essas características indesejáveis. Quando se fornece esse material para o cavalo e, obviamente, ocorre rejeição, atribui-se imprópria e genericamente ao fato de que “equinos não gostam de feno de gramínea”.

Relaciona-se diretamente com o ítem anterior. Observa-se na grande maioria das propriedades que o processo de fenação se dá principalmente de março/abril até setembro. Essa época coincide com a ausência de chuvas, mas o capim já floresceu, amadureceu e quase sempre perdeu o valor nutritivo!

O processo de fenação deve obrigatoriamente coincidir com a época de maior crescimento vegetativo da gramínea, ou seja, de outubro a março.

Deve-se cortar uma área cujo tamanho permitirá realizar todo o processo de fenação no máximo em dois dias. Observa-se que na maioria dos haras, a área ceifada ‘so permite a conclusão dos trabalhos 4-5 dias após a ceifa, o que logicamente aumenta os riscos de perda no campo.

As áreas que são fenadas implicam a exportação total dos nutrientes, pois não há forma de reciclagem dos mesmos. As adubações devem ser realizadas após cada corte e sempre com critérios técnicos.

Uso da irrigação

Para uma forrageira tropical produzir é necessária uma combinação de luz (foto-período), temperatura e água. Qualquer um desses fatores, se porventura ausente, compromete o processo produtivo da pastagem. Por esse motivo não há razão técnica para se proceder a irrigação de pastagens tropicais visando produção invernal, uma vez que a água não é o único fator limitante (a temperatura é menor e a luminosidade também).

A irrigação torna-se bastante interessante na formação de pastagens de coast-cross em áreas de grande infestação de braquiaria (formação durante o inverno).

Erros na produção de alfafa

Ainda hoje, início do século XXI, encontramos propriedades e publicações que fazem e preconizam técnicas de produção de alfafa vigentes no século passado, na década de 20!! Catalogamos a seguir alguns erros.

Infelizmente alguns pseudotécnicos insistem em menosprezar a técnica consagrada da inoculação da semente de leguminosa com o rizóbio específico. Além de prescindir da adubação nitrogenada, a simbiose resultante provoca maior qualidade nutricional da alfafa e maior longevidade do alfafal.

Alguns haras procedem a inoculação corretamente, mas por ignorância ou má-fé adubam em cobertura o alfafal com nitrogênio (nitrocálcio ou similar). Quando se procede a adubação nitrogenada do alfafal provoca-se a morte do rizóbio, cessando, portanto, os efeitos positivos da simbiose.

Muita ênfase é dada para os elementos e cálcio e fósforo que, a despeito de sua indiscutida importância relegam a segundo plano nutrientes como o potássio e boro, reconhecidamente fundamentais no processo de produção da alfafa. Adubações orgânicas, embora bem-vindas, não procedem milagres e resultam, na maioria das vezes, em alfafais pouco produtivos e com alta infestação de ervas daninhas.

Alguns haras cometem absurdos de se proceder adubações foliares de macro-nutrientes, onde o nitrogênio quase sempre está presente. A recomendação da adubação foliar com micronutrientes só se justifica perante caso reconhecido de carência e/ou deficiência e que exija rapidez de ação. Qualquer outra situação evidencia desconhecimento técnico da cultura da alfafa.

Cortes com alfanje

Com honrosas e raríssimas excessões o operador do alfanje é incapaz de proceder o corte do alfafal na altura recomendade que é no mínimo de 8 cm do solo.

O uso contínuo do alfanje provoca ceifa da brotação basilar resultando em decréscimo no vigor da brota da alfafa e grande ocorrência de mortalidade das plantas estabelecidas. O corte deve ser realizado com máquinas apropriadas (segadora), reguladas para uniformidade de altura quando em operação.

Juntamente com o alfanje, a enxada completa a dupla mais responsável pela degradação dos alfafais nas nossas condições. A enxada sempre afeta a área radicular e a região da coroa da planta, concorrendo para o aparecimento de infecções secundárias e morte das plantas.
Deve-se evitar ao máximo o uso de enxada dando-se ênfase ao uso correto de herbicidas e, na pior das hipóteses, ao arranquio manual da invasora. Quando o alfafal é bem planejado na sua implantação, a ocorrência de invasoras é mínima e de fácil controle, dispensando o uso de mão-de-obra para manter limpa a cultura.

Secagem inadequada

A alfafa é um produto nobre, caro e não deve ter seu valor nutritivo diminuído no processo de secagem e armazenamento. Raros são os haras que conseguem efetuar fenação a campo de modo satisfatório, de modo que a secagem artificial (à sombra, ou secador) é a mais utilizada.

Observa-se que muitas propriedades procedem secagem excessiva, causando queda de folhas com consequente diminuição do valor nutritivo do feno. Outras fazendas associam a secagem inadequada com o corte tardio da alfafa, uma vez que interessa somente a produção/área e não a qualidade do produto.

O comprador de feno de alfafa deve aprender a comprar o material pela qualidade nutricional que é dada pela conjunção de: análise bromatológica, coloração esverdeada, maciez ao tato, presença abundante de folhas e ausência de bolor e/ou processo fermentativo e ausência de material estranho.

Finalizando os erros, cita-se ainda os preconceitos contra determinadas forrageiras que nada mais evidencia do que ignorância de suas aptidões agronômicas; a resistência na adoção de técnicas de controle de erosão (curvas de nível, terraceamento, etc) nas pastagens etc etc.

Aos proprietários de haras e seus encarregados técnicos cabe a obrigação de aperfeiçoar o processo produtivo dentro de princípios racionais e econômicos, dando à “indústria do cavalo” sua real dimensão dentro do contexto zootécnico que se insere.

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