sexta-feira, 4 de junho de 2010

Bridão, freio ou hackamore?


Cada cavalo é um ser único! Não existe receita de bolo para resolver problemas advindos da doma e do manejo diário errôneo. Tudo depende de observação, conhecimento, vivência, sensibilidade e, por vezes, o princípio da tentativa e erro é o melhor caminho para amenizar ou, mesmo, solucionar pequenos problemas diários que se tornam fatores decisivos durante uma prova.

No correr da doma, o cavaleiro vive o dilema da embocadura; doma com um bridão pesado, acerta a boca com um bridão mais leve e enfrena com um freio simples, não necessariamente nessa ordem, pois existem infinitas formas de doma e delas advém todo tipo de trauma e vício. Da minha tenra e distante infância, lembro dos potros que eram domados com o queixo atado, onde o domador tirava uma fita de couro cru (o bocal), sovava na madeira, e depois de bem macio o couro era atado, ou seja era passado várias vezes ao redor da mandíbula inferior do animal; na parte debaixo do queixo ficavam duas argolas onde se fixavam as rédeas.

Não estou falando aqui de “quebrar de baixo” ou “quebrar o queixo”, que era o ato de dar um estirão de laço na boca do cavalo, isso foi abolido há muitas décadas, bem antes da minha infância, pela maioria dos domadores. Mas de qualquer forma refiro-me a uma doma que ainda era bruta, mas sem nenhum risco de se cortar o assento da boca do cavalo. Quando chegava a hora de enfrenar o bicho, era sempre usado um freio simples, que era colocado na boca do cavalo uns dias antes para ele “mascar” e se acostumar com o gosto estranho do ferro. Quando chegava nessa fase da doma o cavalo já estava adiantado no trabalho, era como dar o último polimento no diamante lapidado. Tenho procurado em minhas lembranças, e não encontro, registro de cavalos problemáticos oriundos dessas domas: talvez por lapso de memória, não lembro de nenhum caso.

É bem verdade que com o advento das domas racionais, fomos tomando consciência de problemas que eram tratados como acidentes de percurso durante a doma tradicional. No meu parco entendimento, acredito que muitos domadores mesclaram essas duas domas, a tradicional e a racional, e dali tiraram uma espécie de estilo próprio para cada um, e nós, usuários de cavalos, acabamos tendo que decidir com qual desses alquimistas vamos acabar por entregar nossos companheiros de lazer e aventuras.

No enduro apenas alguns poucos afortunados podem domar e treinar diariamente seus cavalos, a grande maioria de nós não dispõe desse tempo precioso, pois labutamos em outras frentes menos prazerosas e mais rentáveis. Lamentos à parte, todo cavaleiro deve ter uma idéia básica da forma como é conduzida a doma do seu cavalo e depois de concluída essa fase da vida do nosso atleta, temos que, em conjunto com o domador, decidir a embocadura correta para o cavalo, nunca esquecendo que o enduro é feito em campo aberto e não em uma pista cercada e coberta. Talvez um leitor incauto não veja problemas nesse detalhe, mas o cavalo tende a se comportar de forma diferente: dentro do picadeiro ele é um e na trilha normalmente ele é outro bem diferente, talvez os instintos falem mais alto quando encontra o campo aberto, talvez a natureza reacenda dentro dele e o faça correr em disparada mundo afora.

Em um cavalo acostumado às trilhas, é normal vermos que durante a prova eles usam apenas o cabresto e nada mais, mas um cavalo novo deve ter um limitador, e é exatamente essa a função da embocadura. O freio de parada rápida, aquele da perna longa, é para os cavaleiros mais experientes, com um tato muito apurado, para não ferir o animal; o freio bridão, ou simplesmente bridão, é mais suave, de efeito mais lento, mas qualquer pessoa pode usar sem medo de machucar seu cavalo; e finalmente os hackamores, essa invenção secular que no mundo contemporâneo foi mais usada pelos buckaroo – vaqueiro da Califórnia – que iniciava o potro de três anos com o hakamore, evitando assim qualquer tipo de problema com a muda de dentes e só enfrenava com uns cinco ou seis anos quando a dentição do cavalo estava completa, isso evitava de parar a doma pelo meio.

Posteriormente o hackamore sofreu algumas alterações, como por exemplo a introdução de pernas longas, iguais as dos freios de parada rápida, e com isso passou a ter força mecânica. O hackamore moderno é muito usado por enduristas de todo o mundo, nos mais variados modelos e nos mais diversos tipos de cavalos. A maior vantagem desse tipo de “embocadura” é exatamente o fato de a boca do cavalo ficar livre, facilitando assim beber e comer sem nenhum tipo empecilho.

A ação dos hackamore em relação à condução do animal é medida pelo tamanho das pernas usadas, quanto maior a perna, maior é a ação. O hackamore moderno ou mecânico tem um macete para ser usado; a barbela deve estar quase “arrochada”, pois é exatamente aí que está o “limitador” do cavalo. O leigo que usa essa ferramenta pela primeira vez, e confesso que já fiz isso um dia, tende a deixar a barbela frouxa, da mesma forma que deixava no freio ou no bridão. De nada adianta ter e conhecer todos os tipos de embocaduras, se não sabe porquê, como e onde usá-las.

No frigir dos ovos, o que realmente importa é a capacidade de cada cavaleiro saber interpretar com que tipo de embocadura o seu cavalo se adapta melhor nas trilhas, tendo sempre a sensibilidade para adequar as embocaduras à evolução e ao gosto do seu cavalo.

3 comentários:

  1. para amançar um cavalo ultiliza ;manta,sela xicote,1 barrigueira,1redia,1bridao,1cabresto 1 cabeçada.


    isso e tudo pessoal

    ResponderExcluir
  2. Achei a materia inteligente e construtiva. Pois tenho um amigo que teve a lingua do seu cavalo cortada na doma e como várias embocaduras foram usadas sem sucesso, penso que o hackamore irá ajudar. Parabéns por seu artigo.

    ResponderExcluir